domingo, dezembro 24, 2006

Literatura de espasmo

I

Caiu de novo. Aquele pingo, no toco do nariz.
Não deve existir tédio e esse tipo de coisa mesmo. Cabeça vazia.
A cabeça, só estava latejando, em busca do que encher.
Sentou. Abriu o livro. Pensou nas pessoas que ele tentava enganar, naquele exato momento.
Um monte. De palavras e pontos e espaços em branco.
E era pra lá que ele olhava. Para o infinito do branco.
O branco repetitivo, dum repetitismo nada acadêmico de Letras.
Tudo poderia ter alcançado esse nível de abstração de umbigo. A universalidade do umbigo.
A não ser pela garota que vinha de lá. 'mvinha.

"Não sente aqui. Não sente aqui. Sente aqui."
Pensou uma única vez. Dividida por três.
Sentou.

"Vai dizer que cigarro não dá pose?"
Antes fosse, emposeador. Se não fosse mais um pensamento encruzilhado. Do tipo, corrente de fuga.
O problema era outro.

O branco do livro, a garota e o diabo vestindo jeans.
No caso, ela era o diabo vestindo jeans. E, de sapatilha vermelha.
Era uma coisa. Uma mania. Reparar nos pés das pessoas.
Enfim.
Um olho no peixe, outro no. Diabos!
Não conseguia se concentrar naquela continuidade, tão linear. Não era com ele. Não é comigo.
Não era com ele.
_ Como chama o livro?
Era com ele. E só poderia ficar pior se, por acaso, ela notasse que não saira da página cinqüenta-e-seis.
Há 20 minutos.
_ É. O Siciliano. Mário Puzo.
Ele também não queria usar de rótulos para ter de explicar quem diabos era Mário Puzo.
Não. Não. Esse tipo de coisa é "Smoke on the water" demais.
Sucinto.
A sorte é que ela caiu em sua sucinteza.
E isto foi anti-paradigma.

O silêncio foi uma rasteira no ego, na verdade.
Ficou com a nuca daquele jeito. Tensa.
Ameaçou roer a unha. A unha maior, do dedo maior. Aquele de mandar as pessoas se fuderem.
Acalmou-se. Soltou um foda-se interior. Quase baixinho.
56.
Caiu de novo.

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